Desmatamento da Amazônia nos últimos 12 meses é o maior em 10 anos

 Área de floresta perdida em um ano foi o equivalente a nove vezes a área da cidade do Rio de Janeiro. No lugar da mata, áreas passam a servir de pasto para a pecuária


A estimativa é de que 94% da devastação seja ilegal e incentivada pelo desmonte da proteção ambiental promovido pelo governo de Jair Bolsonaro


ão Paulo – O desmatamento na Amazônia nos últimos 12 meses é o mais intenso dos últimos 10 anos. De agosto de 2020 a julho deste ano, uma área de floresta equivalente a nove vezes a cidade do Rio de Janeiro foi ao chão. O desmatamento acumulado foi 57% maior do que no período anterior, 10.476 quilômetros quadrados. Apenas em julho, a área de floresta amazônica perdida é superior à da cidade de São Paulo. Os dados foram divulgados na noite de ontem (18) pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

A estimativa é de que 94% da devastação seja ilegal e incentivada pela ausência de políticas de proteção ambiental do governo do presidente Jair Bolsonaro. “A análise do desmatamento por categoria de território indicou que 63% ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse, 23% em assentamentos, 11% em unidades de conservação e 3% em terras indígenas”, aponta a entidade.

O monitoramento foi realizado a partir do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), que utiliza satélites e radares, e também a partir de dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), do governo federal. “A floresta amazônica vem sendo devastada no maior ritmo dos últimos 10 anos,” conclui. O Imazon classifica o desmatamento detectado como de “corte raso”, que é a remoção completa da vegetação florestal para converter a área em pastos para a pecuária.

Áreas afetadas

Os estados que mais tiveram florestas derrubadas nos últimos 12 meses foram o Pará e Amazonas. No Pará, quase metade da destruição registrada em julho ocorreu em quatro municípios: Altamira, São Félix do Xingu, Itaituba e Novo Progresso. “O Pará foi o que mais desmatou no período, com 4.147 km² de área destruída, 43% a mais que o registrado no calendário anterior. Além disso, sete das 10 terras indígenas e cinco das 10 unidades de conservação mais atingidas pelo desmatamento no período estão em solo paraense”, afirma o relatório do Imazon.

No Amazonas, a região Sul do estado foi a mais afetada. “Nestes últimos 12 meses, percebemos um intenso desmatamento na região do Sul do Amazonas. Isso ocorreu devido à escassez de grandes áreas de florestas em regiões que já foram devastadas anteriormente, em estados como Mato Grosso e Rondônia. Com isso, houve um deslocamento do desmatamento da Amazônia, relata a pesquisadora do Imazon Larissa Amorim.

No passo da boiada

Além do desmatamento da Amazônia para dar lugar à produção de carne bovina, outras ações avançam sobre o bioma. O governo Bolsonaro, com apoio da bancada ruralista e do Centrão, emplacou na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) 2.633, que anistia e dá a grileiros a posse de terras públicas. A matéria ainda será discutida no Senado Federal. “Ao aprovar a legalização do roubo de terras públicas, Arthur Lira (presidente da Câmara, do PP de Alagoas) e demais aliados de Bolsonaro no Congresso mostram que estão ao lado do crime e da devastação ambiental”, afirmou a ONG ambientalista Greenpeace sobre o tema.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) cita 33 propostas que tramitam no Congresso que atacam direitos indígenas e desmontam a proteção ambiental do país. Entre eles, destaque para o PL 490, que promove retrocessos de centenas de anos na política indigenista e de proteção das florestas. Por sua política de agressão aos povos originários, Bolsonaro é acusado de genocídio no Tribunal Penal Internacional, em Haia.


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